Após uma estreia visualmente impactante e narrativamente confusa, Twisted-Wonderland retorna ao Disney+ com um segundo episódio mais focado, mas igualmente carregado de mistério. A série, adaptação do jogo mobile da Aniplex em parceria com a Walt Disney Japan, começa a alinhar suas peças e a estabelecer a lógica interna desse universo onde o impossível é regra e a normalidade não existe.
O episódio 2, baseado nos capítulos A Dismissive Ranking! e Meeting First-Years! do mangá, não apenas expande o mundo de Twisted-Wonderland como também fortalece a figura de Yuuken Enma, que assume aqui o papel de espectador dentro da própria história, o visitante que tenta racionalizar o irracional.
Um mundo sem saída
A sequência inicial amarra a tensão deixada no episódio anterior. Riddle Rosehearts, o autoritário líder da Heartslabyul, ameaça Yuuken com a clássica sentença “off with your head”, mas Trey Clover e Cater Diamond surgem para conter a explosão do chefe. A presença de ambos equilibra o clima e mostra que há camadas de hierarquia e política dentro da escola de magia.
O diálogo com o Espelho Mágico é o ponto mais interessante da primeira metade. A revelação de que o mundo de Yuuken “não existe” dentro da lógica de Twisted-Wonderland traz uma angústia silenciosa e uma metáfora potente: ele é literalmente um deslocado entre realidades. O choque de Crowley ao ouvir o nome “Japão” sintetiza essa dissonância entre mundos, uma das ideias mais ricas do episódio.
O que poderia soar como exposição se transforma em inquietação. Não há explicações fáceis, e a série abraça o absurdo como parte da experiência.

O cotidiano distorcido de Night Raven College
Depois do impacto inicial, o ritmo desacelera. Yuuken, agora oficialmente preso em Twisted-Wonderland, é designado para viver no Ramshackle Dorm, um casarão abandonado que mistura comédia e melancolia. As sequências com os fantasmas são visualmente criativas e mostram a capacidade do anime de alternar tons: o terror cômico vira um retrato do isolamento do protagonista.
O design do dormitório é um dos pontos altos do episódio. A direção de arte da Aniplex continua impecável. Há textura, profundidade e uma sensação constante de que o cenário respira. O uso de luz fria e sombras alongadas reforça a atmosfera gótica que define a série.
Yuuken aceita o papel de zelador com a serenidade de quem não tem alternativa. Essa passividade estratégica o torna um protagonista curioso: não é herói nem vítima, mas um observador disciplinado de um sistema que claramente não foi feito para ele.
Ace, Deuce e o início do caos controlado
É na segunda metade que o episódio ganha ritmo e vida. A introdução de Ace Trappola e Deuce Spade injeta energia no enredo e estabelece a dinâmica clássica do duo cômico japonês: Ace é o boke, despreocupado e provocador, enquanto Deuce é o tsukkomi, certinho e explosivo. A química entre os dois funciona de imediato.
A aula improvisada sobre os “Grandes Sete”, reinterpretações dos vilões da Disney, é o tipo de worldbuilding que faltou no episódio anterior. A exposição flui naturalmente e coloca a Rainha de Copas como figura central do colégio Heartslabyul, conectando de forma sutil o imaginário Disney ao universo original do anime.
Quando Grim reaparece, o humor se mistura com perigo. A briga mágica entre fogo e vento culmina na destruição da estátua da Rainha, gerando um caos que finalmente impõe stakes claros à trama. O tom autoritário de Crowley ao decretar a expulsão do trio, Yuuken, Ace e Deuce, mostra que as regras de Twisted-Wonderland são absolutas e cruelmente arbitrárias.
Crowley e o dilema da autoridade
Dire Crowley continua sendo um dos personagens mais intrigantes da série. Sua postura carismática e exagerada mascara intenções dúbias. Há algo deliberadamente falso em seu discurso paternalista, como se sua “bondade” fosse parte de uma performance. Essa ambiguidade é um dos elementos mais promissores do anime: um mentor que parece esconder algo, um guia que pode ser o verdadeiro vilão.
Essa dualidade é reforçada na punição absurda que impõe aos alunos. A busca pela magestone na Enchanted Mine funciona como um ensaio de jornada. É o primeiro grande desafio conjunto do grupo, e a forma como o episódio termina, com a promessa de perigo real e a aproximação de uma nova criatura, prepara terreno para o crescimento dos personagens.

Aspectos técnicos e direção
O episódio 2 de Twisted-Wonderland mantém a qualidade visual elevada. A fluidez da animação é notável nas cenas de magia e nos enquadramentos dinâmicos que exploram a arquitetura vertical de Night Raven College. A fotografia continua apostando em contrastes acentuados e iluminação teatral, o que ajuda a reforçar a sensação de que o mundo é um palco encantado e ameaçador.
A trilha sonora alterna entre a melancolia orquestral e a leveza de temas estudantis, destacando bem as transições de tom. O design de som, especialmente nas cenas do Ramshackle Dorm, é sutil, com rangidos e murmúrios ao fundo que dão vida ao espaço sem exagero.
Evolução narrativa e tom
Diferente do piloto, o segundo episódio de Twisted-Wonderland demonstra mais segurança na condução. O ritmo continua acelerado, mas agora serve à narrativa. A história começa a encontrar um equilíbrio entre o absurdo e o emocional, abrindo espaço para os personagens respirarem.
Ainda há muito a esclarecer, especialmente sobre a lógica interna do universo e as referências diretas à Disney, mas a estrutura de “episódios-missão” que se desenha promete dinamismo e progressão. É como se a série começasse, enfim, a entender que seu encanto está mais no contraste entre o mágico e o humano do que na simples exibição de efeitos visuais.
Twisted-Wonderland começa a encontrar seu tom
Twisted-Wonderland episódio 2 é, em essência, o verdadeiro início da série. Ele dá forma à relação entre os personagens, define o papel do protagonista e começa a explorar o fascínio distorcido que sustenta o mundo da obra. O equilíbrio entre humor, tensão e melancolia é mais coeso, e o ritmo, embora ainda intenso, é sustentado por boas interações.
A produção ainda tem o desafio de tornar seu universo compreensível para quem não jogou o game, mas a direção mostra sinais claros de amadurecimento. Visualmente deslumbrante e com personagens que começam a mostrar profundidade, Twisted-Wonderland se firma como uma aposta ousada da Disney+ no campo da animação japonesa.
O segundo episódio encerra com uma promessa de aventura e um vislumbre de emoção genuína, e dessa vez o encanto não se perde no espelho.
Assista Twisted-Wonderland no Disney+.
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