O primeiro episódio de Twisted-Wonderland chegou ao Disney+ cercado de expectativa. Baseado no jogo mobile criado pela Aniplex em parceria com a Walt Disney Japan, o anime promete mergulhar o público em uma versão sombria e estilizada dos contos clássicos da Disney. E, pelo menos visualmente, ele cumpre o que promete.
A estreia, intitulada “O Duelo”, é um mergulho direto em um universo misterioso e caótico. A animação é impressionante, os personagens são visualmente marcantes e a ambientação mistura fantasia e mistério com um toque gótico irresistível. Mas o roteiro parece tão apressado em mostrar seu mundo mágico que esquece de preparar o público para ele.

A trama: um espelho, um colégio e um protagonista perdido
O episódio começa com uma cena familiar: Yuken Enma, um estudante e capitão de um time de kendo, vive o cotidiano de qualquer anime escolar. É um personagem carismático e pé no chão, que transmite confiança e liderança. Só que o anime rapidamente vira o jogo.
Durante a noite, envolto por uma névoa densa, Yuken é misteriosamente transportado para outro mundo, o tal Twisted-Wonderland. O tom muda completamente: o real se dissolve, e o espectador é jogado em um ambiente místico, repleto de símbolos, espelhos e estudantes vestidos como magos.
A cena é envolvente, mas também confusa. O episódio apresenta personagens, conceitos mágicos e conflitos em ritmo acelerado. A sensação é de estar dentro de um sonho que mistura referências da Disney com uma estética de fantasia sombria. Bonito de ver, mas difícil de acompanhar.
Grim rouba a cena (e o caos)
Entre os novos rostos, o destaque absoluto é Grim, um pequeno gato demoníaco com mais ego do que juízo. Ele surge como um furacão, trazendo humor e confusão na mesma medida. Seu temperamento explosivo e seu desejo de provar que pode ser um mago o colocam no centro do caos, e, ironicamente, o tornam o personagem mais divertido de assistir.
Enquanto isso, o misterioso homem mascarado tenta explicar o que está acontecendo, mas o público mal tem tempo de processar. Yuken ainda tenta entender se está sonhando, mas o ritmo frenético não permite que ele, nem a gente, respire.
É nessa mistura de ação, confusão e faíscas mágicas que o episódio encontra sua identidade. Twisted-Wonderland quer ser uma experiência sensorial antes de ser narrativa. E isso é tanto seu charme quanto sua fraqueza.

O primeiro embate: Yuken vs Riddle Rosehearts
Se há um momento em que o episódio começa a ganhar foco, é na chegada de Riddle Rosehearts. O jovem mago de cabelos vermelhos e postura rígida é o oposto de Yuken: disciplinado, orgulhoso e autoritário. Quando ele cruza o caminho do protagonista, a tensão é imediata.
A relação entre os dois promete ser o motor emocional da série. Yuken representa empatia e humanidade; Riddle, controle e tradição. Essa dualidade é o tipo de conflito que costuma render bons arcos em animes de fantasia escolar. Mesmo com pouco tempo de tela, o embate deles é o que dá peso dramático ao episódio.
Ritmo e estrutura: um espetáculo apressado
O grande desafio do episódio 1 de Twisted-Wonderland é o ritmo. O anime parece querer condensar toda sua mitologia em 20 minutos, e isso prejudica a clareza da narrativa. Há momentos em que o visual toma o lugar da história — e, embora seja lindo de ver, a falta de contexto pode afastar parte do público.
Por outro lado, esse mesmo caos pode ser visto como um reflexo da própria experiência de Yuken. Assim como o protagonista, o espectador é jogado em um mundo sem explicação, tentando entender suas regras enquanto tudo ao redor desmorona. É confuso, mas intencional, e há um certo charme nisso.
A direção opta por priorizar o impacto visual: luzes vibrantes, transições rápidas e uma atmosfera de sonho distorcido. A trilha sonora reforça esse tom, alternando entre o épico e o enigmático. Mesmo quando a história tropeça, a estética segura a experiência.

Os visuais: o verdadeiro feitiço de Twisted-Wonderland
É impossível falar de Twisted-Wonderland sem destacar sua direção de arte. O design dos personagens é refinado, com traços elegantes e figurinos inspirados em elementos dos vilões da Disney. As cores são intensas, o uso de sombras é inteligente e o contraste entre os ambientes cria uma sensação constante de mistério.
Cada cenário parece saído de um sonho surreal. O espelho mágico, as salas cerimoniais e os detalhes arquitetônicos do colégio encantam o olhar. Há um cuidado estético que mostra que a Disney e a Aniplex apostaram alto nessa produção.
Mesmo em meio à confusão narrativa, Twisted-Wonderland é um deleite visual, e isso, por si só, já o torna digno de ser assistido.
O pós-créditos e as promessas do que vem aí
O episódio encerra com uma cena pós-créditos em tom cômico e informativo, que apresenta de forma mais clara os personagens e suas origens. É uma boa ideia, mas chega tarde demais, esse tipo de explicação teria ajudado no início.
Ainda assim, é ali que o anime planta suas sementes narrativas: o conflito entre Yuken e Riddle, o mistério do espelho, e a promessa de explorar o passado dos estudantes de magia. Tudo indica que os próximos episódios devem aprofundar esses elementos, e talvez transformar o caos inicial em uma história envolvente.
Um início tropeçado, mas promissor
O episódio 1 de Twisted-Wonderland não é perfeito. É confuso, acelerado e, em alguns momentos, até exaustivo. Mas há algo cativante no seu caos. O visual é deslumbrante, os personagens têm potencial e o conceito, um colégio mágico inspirado nos vilões da Disney, é bom demais para não despertar curiosidade.
Para quem gosta de mundos cheios de mistério, estética dark e personagens com camadas, vale insistir além da estreia. Twisted-Wonderland ainda está encontrando seu tom, mas o primeiro episódio mostra que há uma história interessante escondida por trás da névoa.
Se o anime conseguir equilibrar narrativa e emoção, pode se tornar um dos títulos mais originais do Disney+. Por enquanto, é um feitiço que ainda está sendo lançado, imperfeito, mas com um brilho que promete encantar.
Assista Twisted-Wonderland no Disney+.
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